sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Auto-retrato



Sou ossos
carne
músculos
pele
sangue
unhas
e
dentes.
Aparentemente muito, 
mas na verdade quase nada.

Sou uma, duas ou três,
e ás vezes cinco.
Sou tudo o que vi, ouvi e cheirei.

Amo o pouco comum,
o feio,
o nada demais.
Apaixono-me por coisas
As coisas não nos magoam.

Intolerante
Um arco-íris de duas cores.
Branco
e
Preto.

Não posso ser totalmente 
feliz ou satisfeita.
Mordo-me
Esmurro-me
Sou um bicho sonhador que se encanta com pouco.

Apaixono-me para sofrer.
Subestimo-me.
Sou cordas vocais
órgãos genitais
boca
olhos
Sou Íris.





Ilustração de:
Inês Apolinário

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Les Femmes Vampires






Andam em grupos
aos pares
sozinhas

Sombras da sociedade
cobertas 
tapadas
escondidas

Aberrações
Demónios
Doentes
Espécie de insanidade mental
Física
Distúrbio de personalidade.

À noite
Saem para caçar
em busca de sangue,
de um saciar de carne humana,
de mulheres.
Famintas.

Ou então não.

Nasceram.
Cresceram.
Riem.
Choram.
Sofrem.
Sentem.
Lutam.
Amam.
Amam.
Amam.

E morrem.

-Eis o pecado.

Quem sois vós para decidir o que é pecado?
Quem sois vós para privar algum tipo de liberdade a estas pobres vampiras?

!LES FEMMES!

Perdoe-me senhor
 por amar tanto uma mulher 
ao ponto de dar a minha vida por ela
o meu sangue 
os meus rins
Os meus braços
dedos
unhas
cabelos
e órgãos genitais.

Serei eu também uma dessas vampiras Senhor?
É que se o sou,
prefiro morrer 
a deixar de o ser Senhor,
pois morreria só de saber
que as mãos dessa mulher Senhor
jamais me voltariam a penetrar.

!LES FEMMES!



-Eis o pecado.





Ilustração:
Inês Apolinário 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Quinta.com




Que morram as vacas
os patos
as espigas da quinta!

Que o vento seque as cearas
Cenouras e batatas!

Que os pássaros comam os morangos vermelhos 
azuis
dourados.

Que hajam mosquitos
casulos
larvas

OVOS SEM PINTOS!!

Oh Secas!
Inundações
Terras inférteis
Oh sim solos desnudos!
Coisíssima  nenhuma
alguma
muito pouca
quase nada!!! 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Coma profundo

Estou como que se a dormir
O meu corpo não reage
Mas o meu cérebro vagueia por aí

Já não reajo a estímulos
Já não existem estímulos que me tentem.
Há um frio que me queima, muito profundamente
Como dantes. 

Por cada inspiração apodreço mais um pouco
E a dor é tanta que já nada dói mas tudo magoa.
Agora sou quase nada.

Impotência
Espera inútil 
Raízes em mim.

Uma espécie de coma profundo