quarta-feira, 27 de junho de 2012

Por concluido

Poderia morrer já

agora

tão cedo

Num breve instante.



Morrer de uma espécie de tédio,

de um género de amor,

de um tipo de felicidade.

Morrer por metade,

partir por inteiro.



Estender os braços por momentos

e abraçar este vento tão subtil,

tão intacto

que nos sopra as velas e nos desprende do cais.



E que bom seria nós,

livres de amarras

Correndo nus pelos mais belos campos de ortigas,

tão rudes e densos

que nos arrancam as pétalas

e nos desfloram,

num gesto de Outono

com tons de Primavera.



Que bom seria morrermos assim,

despidos de coisas

tão cheios do que é belo.



Se te amo meu amor...

sábado, 5 de maio de 2012

Os pássaros voaram



Onde estás, que não te vejo?
Está escuro e não te sinto.
Tu costumavas segurar na minha mão,
e mentindo, dizias que tudo ia ficar bem,
mas isso foi há muito tempo.

Eu continuo com medo,
 mas tu não te deixas ver.

Onde foi que te perdeste?
...que te perdi?

Porque é que já não sinto o bombear desse sangue,
que também é o meu?

E eu volto a ser pequena,
e eu tapo os ouvidos,
e eu choro,
e dói...

Como preciso do teu abrigo
para me proteger desta tempestade
que nunca parte.
Onde estás, que não te vejo?

E pudesse eu ter-te novamente
tão terna,
tão bela,
tão limpa.


Os pássaros voaram

E eu continuo com medo,
mas tu não te deixas ver.

 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Actos e rosas



Inevitavelmente,
recordei-me de ti.
A pele branca, 
porém possuidora de um interior muito pouco claro
 escuro,
quase sombrio 
e
impossível de traduzir.

Em tempos acreditava.

Hoje vejo que eram apenas palavras decoradas
saídas da tua boca.

E eu deixei rosas em todos os actos.
Vermelhas,
Como esses lábios que, por breves momentos, julguei meus.
Como esse coração que nunca bateu por mim.

E o que ficou em ti?

Metade de mim, ainda espera sentada
pela dança prometida, 
para a qual a minha melodia não bastou.

E em mim ficaram rancores,
mágoa,
saudade, 
e um amor eterno, 
como as rosas que eu tinha 
para enfeitar o teu caminho.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Auto-retrato



Sou ossos
carne
músculos
pele
sangue
unhas
e
dentes.
Aparentemente muito, 
mas na verdade quase nada.

Sou uma, duas ou três,
e ás vezes cinco.
Sou tudo o que vi, ouvi e cheirei.

Amo o pouco comum,
o feio,
o nada demais.
Apaixono-me por coisas
As coisas não nos magoam.

Intolerante
Um arco-íris de duas cores.
Branco
e
Preto.

Não posso ser totalmente 
feliz ou satisfeita.
Mordo-me
Esmurro-me
Sou um bicho sonhador que se encanta com pouco.

Apaixono-me para sofrer.
Subestimo-me.
Sou cordas vocais
órgãos genitais
boca
olhos
Sou Íris.





Ilustração de:
Inês Apolinário

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Les Femmes Vampires






Andam em grupos
aos pares
sozinhas

Sombras da sociedade
cobertas 
tapadas
escondidas

Aberrações
Demónios
Doentes
Espécie de insanidade mental
Física
Distúrbio de personalidade.

À noite
Saem para caçar
em busca de sangue,
de um saciar de carne humana,
de mulheres.
Famintas.

Ou então não.

Nasceram.
Cresceram.
Riem.
Choram.
Sofrem.
Sentem.
Lutam.
Amam.
Amam.
Amam.

E morrem.

-Eis o pecado.

Quem sois vós para decidir o que é pecado?
Quem sois vós para privar algum tipo de liberdade a estas pobres vampiras?

!LES FEMMES!

Perdoe-me senhor
 por amar tanto uma mulher 
ao ponto de dar a minha vida por ela
o meu sangue 
os meus rins
Os meus braços
dedos
unhas
cabelos
e órgãos genitais.

Serei eu também uma dessas vampiras Senhor?
É que se o sou,
prefiro morrer 
a deixar de o ser Senhor,
pois morreria só de saber
que as mãos dessa mulher Senhor
jamais me voltariam a penetrar.

!LES FEMMES!



-Eis o pecado.





Ilustração:
Inês Apolinário 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Quinta.com




Que morram as vacas
os patos
as espigas da quinta!

Que o vento seque as cearas
Cenouras e batatas!

Que os pássaros comam os morangos vermelhos 
azuis
dourados.

Que hajam mosquitos
casulos
larvas

OVOS SEM PINTOS!!

Oh Secas!
Inundações
Terras inférteis
Oh sim solos desnudos!
Coisíssima  nenhuma
alguma
muito pouca
quase nada!!!